Marisol estava muito, muito triste. O cachorrinho da casa,
Gugu, tinha fugido tão logo viu o portão da rua aberto. Um carro que vinha
passando, não teve tempo de frear e atingiu
o bichinho. Durante dois dias ele ainda lutou para sobreviver, mas não
resistiu.
Marisol tinha orado muito, pedido com toda fé a Deus que
melhorasse a saúde de Gugu, mas não conseguiu. Sentiu-se um tanto culpada por
não ter ajudado o bichinho a sobreviver. Tentou até mesmo dar o passe, pois
tinha descoberto a transferência de energia que acontece através do fluido
vital. Vó Vilma tinha dito a ela que o fluido vital se transmite de uma pessoa
para a outra, e que aquele que tiver mais fluido, pode dar a quem tem menos e
em certos casos pode até mesmo prolongar a vida que está prestes a se extinguir.
Ela chorava, chorava, muito sentida com a perda de Gugu.
Marisol - Eu tentei tanto... Eu pedi a Deus com muita
vontade, muita fé. Eu tentei dar para ele toda a força que eu tenho...
Vô Luiz - Querida, não basta você querer, você pedir com
toda fé que seja. Gugu ficou muito machucado.
Vô Luiz explicou a ela que quando os elementos essenciais ao
funcionamento dos órgãos estão destruídos, ou muito profundamente machucados, o
fluido vital se torna impotente para lhes transmitir o movimento da vida, e o
ser morre.
Vô Luiz - Além do mais, há um plano de Deus para cada um de
nós, um tempo a ser vivido, a ser cumprido. Você, Solzinha, como um ser
inteligente que é, deve procurar entender isso.
Marisol - Gugu também era muito inteligente, muito mesmo.
Vô Luiz - Gugu era um cachorrinho lindo. Mais
tarde poderemos conversar sobre os
animais. Por enquanto vamos ver a diferença entre inteligência e instinto.
Marisol - Sou toda ouvidos. – Dizendo isso, Marisol colocou
as duas mãos atrás das orelhas, indicando que estava ouvindo atentamente.
Vô Luiz - A inteligência é algo especial, é uma capacidade
que alguns seres têm. A inteligência, junto com o pensamento, dá vontade de
“fazer”, a consciência de que se existe, dá condições de se relacionar com o
mundo e de prover as suas necessidades.
Marisol - Quanta coisa, vô...
Vô Luiz - Realmente.
Às vezes não pensamos em tudo de maravilhoso que temos em nossas vidas.
Marisol - Mas, vô, como é que começa isso? Tem gente que
fala que as abelhas e as formigas são inteligentes.
Vô Luiz - Vamos começar com as pedras. Olhe aquela pedra
enorme naquela montanha lá longe.
Marisol - Muito linda, vô.
Vô Luiz - Aquela pedra é constituída de matéria sem
vitalidade.
Marisol - Sem vida?
Vô Luiz - Isso. Sem vitalidade, sem inteligência. A pedra é
um corpo bruto.
Marisol - Mas... E as plantas?
Vô Luiz - As plantas são seres formados de matéria. Têm
vida, mas não têm inteligência.
Marisol - Todas as plantas?
Vô Luiz - Sim, todas as plantas.
Marisol - E os animais?
As abelhas fazem as colmeias
perfeitas e as formigas constroem uma verdadeira cidade no formigueiro.
Vô Luiz - É o instinto.
Marisol - Ah, então os animais não têm inteligência?
Vô Luiz - O instinto é uma espécie de inteligência, só que
muito simples, rudimentar.
Marisol - Então os animais têm instinto e as pessoas têm
inteligência?
Vô Luiz - Todos
nós continuamos com
instinto. Muitas vezes
ele nos guia até melhor do que a
razão. O instinto não raciocina; a razão permite a escolha e dá ao homem o
livre-arbítrio.
Marisol - O que é isso?
Vô Luiz - É a liberdade que temos para escolher o que fazer.
Marisol - E as abelhas podem escolher para fazer a colmeia,
produzir o mel?
Vô Luiz - Elas seguem o instinto que as leva a fazer tudo aquilo, assim como
você faz isso...
Nesse
momento vô Luiz soprou direto no rosto de Marisol que fechou os olhos e colocou
as mãos tapando o rosto.
Marisol - Aiê, vô-ô. De novo?
Vô Luiz
com as mãos apalpou o rostinho da neta e percebeu o que tinha feito.
Vô Luiz - Isso é uma reação sua por causa do instinto.
Marisol - Hã?
Vô Luiz - O instinto faz com que você proteja o rosto e os
olhos para que nenhum mal seja causado a eles.
Marisol - É verdade, vovô. Eu tampei o rosto logo, logo.
Vô Luiz - O instinto faz com que façamos as coisas de forma espontânea,
sem raciocinar.
Marisol - E a inteligência, vô?
Vô Luiz - A inteligência faz com que pensemos para fazer as
coisas.
Marisol - Já sei. A cabeça é para pensar.
Vô Luiz - Isso, meu bem. E com o coração, agimos da forma
como Jesus veio nos ensinar.
O
cheirinho de bolo estava inundando toda casa. Marisol logo chamou o vô para
irem juntos à cozinha.
Marisol - Huuuum... Que cheirinho bom! Vamos comer bolo, vô.
Vô Luiz - E então, Marisol? É o instinto ou a razão que está em ação
neste momento?
Marisol - Ai, vô, eu acho que não pode ser a razão porque
minha barriga está fazendo roc, roc e a
boca já está cheia d’água.
Vô Luiz - Mas a razão pode dizer alguma coisa a você. O quê?
Marisol - “Marisol, não coma muito, senão vai ter dor de
barriga!”.
Vô Luiz - Isso mesmo!
E
rindo, lá se foram os dois comer o bolo tão gostoso que saía do forno naquela
hora.
Bolo
quente é muito bom!
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