Como ler o livro

Por ser um blog, as postagens mais recentes ficam à frente. Portanto, vejam desde a introdução, os capítulos na sequência numérica. Leiam o 1º capítulo, depois o 2º e por aí vai.
Espero que aprendam, se divirtam e se emocionem com Marisol, sua família e seus amigos.

Atenciosamente,
Sonia da Palma

Contato:
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quinta-feira, 10 de maio de 2012

Capítulo 16 - O perispírito


Enquanto estava aconchegada ao colo de sua avó, Marisol ouviu sua mãe cantar.
                “Que voz bonita a mamãe tem. Adoro quando ela canta.” – pensou consigo mesma.

                Letícia estava molhando as plantas nos canteiros. As folhagens verdes balançavam como se estivessem tomando banho bem satisfeitas.

                Marisol deu um beijo e abraçou gostos sua avó e deixou- a entregue às suas costurinhas.

 Marisol - Mãe, por que você está cantando? – quis saber a menina.
Letícia - Faz bem cantar para as plantas. Você não sabia que elas ficam mais bonitas, mais viçosas?
Marisol - O quê?
Letícia - Viçosas – cheias de vida.
Marisol - É, né? Elas estão sempre bonitas. Sabe, mãe, na casa de dona Rosália as plantas não ficam assim como aqui em casa.
Letícia - Vai ver que ela se dedica mais a outras coisas.
Marisol - Mas será que ela não cuida bem  porque não tem amor pelas plantas?
Letícia - Marisol, não devemos pensar mal, nem fazer mal julgamento de ninguém. É importante vermos sempre o que a pessoa tem de bom.
Marisol - Mas o que dona Rosália tem de bom?
Letícia - Eu não a conheço bem, mas a roupa que ela coloca no varal está sempre muito bem lavada, muito branquinha.
Marisol - Mãe, o que você estava cantando? Eu acho que conheço aquela música.
Letícia - Ela fala do fluido vital que dá origem a tudo que existe no mundo material.
Marisol - Como assim?
Letícia - Vegetal –   as plantas, as flores, as verduras e legumes. Animal – bichos e seres humanos. Vegetal, animal têm fluido vital, fluido que dá vida.
Marisol - É igual à outra palavra que você falou?
Letícia - Não. Eu falei viçosa, cheia de vida. Vamos ver um exemplo. Quem se alimenta bem e tem uma vida regrada, sem excessos como muito sol ou muito tempo sem dormir, tem a pele viçosa. Ao passo que as pessoas que quase não se alimentam, subnutridas, como aquelas criancinhas que vimos na tevê, muito doentinhas por falta de comida e de água, elas têm a pele e o corpinho maltratados, sem o brilho que a vida dá.
Marisol - Mas... e esse outro que você cantou?
Letícia - Eu estava cantando sobre o fluido vital, aquele que dá vida a tudo que existe no mundo material.
Marisol – E existe um outro mundo?
Letícia - Sim, o mundo espiritual onde vivem os espíritos desencarnados.
Marisol – É mesmo. Eu já tinha esquecido. Mas como é que eles fazem  para nascer aqui?
Letícia – Precisam do fluido vital.
Marisol - Engraçado. Parece que tem que encher como o pneu da bicicleta, senão não dá para andar.
Letícia - É mais ou menos por aí. É preciso  gasolina para o carro andar, o sangue que corre nas veias dos homens e dos animais para que eles possam viver, assim como a planta precisa da seiva.
Marisol - E quando o corpo morre?
Letícia - Aí se extingue, acaba o fluido vital: acabou a gasolina, o carro não anda mais. 
Marisol - Que palavra engraçada. O Renato já tinha falado pra mim alguma coisa sobre isso, ele tinha até cantado uma música. Acho que era essa. – falou fazendo carinha de quem ia recordando de algo. -  É isso mesmo. Agora estou lembrando. Quando ele falou, falou, eu entendi só um pouquinho. A boca faz um jeito gozado para falar, né?

                Marisol começou a mexer a boca articulando bem a palavra.

Marisol - Flui – do. Flui – do. – ela falava pausadamente, colocando a língua para fora da boca.. Fla, fle, fli, flo, flu. Fluido. Parece que vou fazendo bolinhas. – e desatou a rir.
Letícia - Ah, Marisol. Só você mesmo.

                Ajudou a mãe a secar a varanda que ficara molhada e voltou às perguntas:

Marisol - Só tem esse fluido, mãe?
Letícia - O Renato não lhe falou mais nada?
Marisol - Ele disse que vivemos num mar de fluidos. – abriu bem os braços para indicar a extensão – e pediu que eu nadasse assim. – e lá ficou movimentando os braços e o troco para mostrar como tinha feito. – Eu senti até umas formiguinhas.
Letícia - É isso mesmo. Renato é muito inteligente.
Marisol - Mas não tem mais nada pra me falar?
Letícia - Bem, vamos lá. O fluido universal é diferente em cada planeta, em cada mundo.
Marisol - Não é só aqui na Terra que existe não?
Letícia - Em todo universo. Lembra o que Renato lhe falou: “Vivemos num mar de fluidos.” Todo universo. Por isso chamamos de fluido universal.
Marisol - Ah... Faz sentido. Universo  - universal. É, está certo. Mas serve pra quê?
Letícia - Lembra-se do Toninho?
Marisol - Claro, né, mãe? Meu amigo. Meu amigo pra quem posso mandar os presentes que eu quiser pelo meu pensamento.
Letícia - O que aconteceu com o Toninho?
Marisol - Ah, mãe. Ele desencarnou. – falou amuando.
Letícia - O que é isso?
Marisol - Ele perdeu o corpo de carne porque no acidente ele se machucou muito.
Letícia - Então vamos entender o seguinte: Toninho perdeu o corpo de carne, corpo pesadão e ficou mais leve porque agora ele está perispírito e espírito.
Marisol - E o que é perispírito?
Letícia - É igual ao corpo físico, igualzinho, só que ele é leve, vaporoso.
Marisol - Hum... Ele ganhou um perispírito porque o corpo dele morreu?
Letícia - Não, meu bem. Todos nós temos perispírito. Cada um tem o seu que é igual ao corpo físico.
Marisol - Mas por quê?
Letícia - Somos espíritos e o espírito não tem forma. O corpo físico é muito pesado: cresce unha, cabelo. O perispírito envolve o espírito e o torna visível. Ele é formado com o fluido cósmico do mundo onde estamos.
Marisol - E se eu for nascer em Marte?
Letícia - Vai ter que formar seu perispírito com o fluido cósmico de Marte.
Marisol - E se eu for nascer em Júpiter?
Letícia - Vai ter que formar seu perispírito com o fluido cósmico de Júpiter.
Marisol - E se eu for nascer em Plutão?
Letícia - Vai ter que formar seu perispírito com o fluido cósmico de Plutão
Marisol - E se eu for...
Letícia - Acho que já está bom, não é?
Marisol - Hum... eu queria perguntar mais coisas.
Letícia - Que não seja sobre formar o perispírito em outro planeta, ok?
Marisol - Pode deixar. É o seguinte: Toninho ficou muito machucado, por isso o corpo dele morreu. Será que doeu pra ele morrer? – Marisol gostava tanto de Toninho... Tinha muita preocupação com ele e depois de sua desencarnação, orava todas as noites pelo amigo.
Letícia - Não, minha querida. A separação da alma e do corpo vai de forma gradual, devagar.
Marisol - Devagarzinho?
Letícia - Vamos imaginar um passarinho preso em uma gaiola.
Marisol - Tadinho. Ainda bem que aqui nós colocamos pão para eles comerem no quintal.
Letícia - Um passarinho preso é feliz?
Marisol - Acho que não, mãe. Mas dizem que se soltar o passarinho que está preso ele não vai conseguir voar fora depois.
Letícia - É porque ele se acostumou à prisão da gaiola. Mas se for solto, depois de um tempo voará para a liberdade.
Marisol - Eu não gostaria jamais de ficar presa.
Letícia - Mas você está presa.
Marisol - Eu!?!?!?!?
Letícia - Todos nós estamos. O corpo físico é uma prisão temporária. Quando voltamos ao mundo espiritual, perdemos a nossa gaiola que é o corpo físico, e adquirimos a nossa liberdade novamente.
Marisol - Então..., será que Toninho está mais feliz agora?
Letícia - Acredito que sim, é um grande alívio não ter mais o pesado corpo de carne, inclusive também  porque ele se encontrou com parentes e amigos que lá estavam e o receberam.
Marisol - Mas não lembra  mais de quem ficou aqui?
Letícia - Certamente... E essa lembrança que ele levou consigo é cheia de doçura, pois Toninho era uma criança muito meiga, engraçada e carinhosa.
Marisol – E se ele fosse uma pessoa ruim?
Letícia – Nesse caso ele levaria lembranças muito dolorosas. Mas não é o caso de nosso Toninho querido.

                Apontando para uma lagarta verdinha que estava no pé de maracujá a mãe explicou:
Letícia - Veja, Marisol. Nós estamos como esta lagartinha.
Marisol - Mãe... Nós não somos verdes....
Mãe - Sim , não somos verdes, mas estamos nos arrastando aqui na Terra com nosso corpo pesado como ela se arrasta na folhinha. Depois de um tempo, ela vai se fechar em sua crisálida e  mais tarde ela irá ressurgir como uma linda borboleta.
Marisol - E nós?
Letícia - Se nós formos pessoas que procuram fazer o bem, ao deixarmos nosso corpo de carne aqui na Terra, renasceremos no mundo espiritual lindos, como a linda borboleta que sairá do casulo.
Marisol - Mãe... Eu quero muito ser uma pessoa boa.
Letícia - É para isso que renascemos. É uma luta conosco mesmo, dia após dia.

                Assim dizendo, recolheu a mangueira do jardim e pediu a Marisol que pegasse o vaso de violetas para colocar sobre a mesinha da varanda.






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