Marisol – Mãe, eu pareço com você e com o papai, não é?
Letícia – Você parece comigo quando eu era da sua idade.
Marisol – Mas do papai eu puxei muita curiosidade, o jeito
de dormir e a facilidade para aprender.
Letícia – Nesse caso, eu já não posso confirmar.
Marisol – Ué, mãe? Por que não?
Letícia – Porque os pais ajudam os bebês a nascerem
dando-lhes o corpo físico, mas a alma, não.
Marisol – Mas eu não pareço com ele, não tenho o jeito dele
falar e tudo?
Letícia – O que acontece é que vocês são espíritos
simpáticos e se sentem felizes por estarem juntos.
Marisol – Ah, eu acho o papai muito simpático, de verdade!
Letícia – Não desse jeito. Simpático porque há afinidade
entre vocês. Você gosta das mesmas coisas e isso faz com que exista esta
semelhança entre vocês dois.
Marisol
fez cara de vitoriosa com a explicação da mãe. Ela gostava muito do pai. A mãe
continuou:
Letícia – Nós, os pais, temos grande responsabilidade com os
filhos porque os influenciamos muito.
Marisol – Você vai ser sempre minha mãe, não é? E papai
também.
Letícia – Só Deus sabe das nossas necessidades. Estamos aqui
na Terra para ajudar o progresso uns dos outros. Como lhe falei, nós, os pais,
temos a missão de desenvolver os filhos pela educação.
Marisol – Mas você não ser sempre a minha mãe? Eu não quero
outra mãe.
Letícia – Ah, Solzinha, eu poderei ser seu irmão, seu pai
poderá ser sua avó ou sua mãe.
Marisol – Ih, mãe. Que isso? Você é mulher e papai é homem.
Letícia – Mas reencarnamos em corpos adequados para nossa
aprendizagem: ora estamos num corpo masculino, ora num corpo feminino.
Marisol – Isso é muuuuuuuuito esquisito. Os meninos lá da
escola nem gostam de cantar as músicas porque dizem que é coisa de garota.
Letícia – Se eles soubessem que já foram mulheres em outra
encarnação, não ficariam tão preocupados em definir sua masculinidade.
Marisol – Se já foi mulher e hoje é homem, como é que fica
quando não tem um corpo de carne? Qual é o sexo na es- pi-ri-tu-a-li-da-de?
Letícia – Não é como imaginamos, como entendemos.
Marisol – Não?
Letícia – Não. Mas depois conversamos mais sobre isso.
Marisol – Mãe, já pensou você e papai como homem os dois?
Não dá certo. Tem que ser um homem o
outro mulher.
Letícia – Sol, o que une os espíritos é o amor e a simpatia,
baseados na concordância de sentimentos. Imagine que só reencarnássemos em um
determinado tipo de corpo: só homem, só homem, só homem.
Marisol – Qual o problema?
Letícia – Como é que
aquele espírito aprenderia a doçura e a felicidade de ser mãe? Isso só acontece
quando vive a experiência. E para isso, precisa reencarnar num corpo feminino
para gerar um bebê em sua barriga, dar de mamar... Entende?
Nesse
momento, os olhos de Marisol se encheram de lágrimas, e, brilhando, pensava na
ternura da maternidade.
Letícia – Viu, minha filha? Você gosta tanto de brincar com
suas bonecas. Um dia, com a permissão de Deus, você também vai ter a felicidade
de ter um filhinho seu..
Marisol – É, mãe. Homem não pode ter neném.
Letícia – Mas nem por isso deixa de ter o anseio da
paternidade. Lembra do Pedro Paulo, primo da Belinha?
Marisol – O que é que tem o Pedro Paulo?
Letícia – Ele estava com 11 anos e já suspirava por encontrar
uma namorada com que pudesse se casar e constituir família.
Marisol – Ele agora tem 16 anos.
Letícia – E ainda continua
no desejo firme de constituir uma família e ter filhos. Isso vai de cada um. Cada
pessoa guarda desejos e sonhos que, muitas vezes, só Deus conhece.
Marisol – Mas o homem não é diferente?
Letícia – A constituição física sim. Enquanto num corpo
masculino, o espírito desenvolve a força para lutar pela sobrevivência, o
cuidar, o prover as necessidades de si mesmo e, posteriormente, da família.
Marisol – Todos são importantes, então?
Letícia – Certamente. O espírito encarna como homem ou como
mulher porque não tem sexo. Precisa progredir. E como homem aprende deveres
especiais, tem provações também. Com isso, vai ganhando experiência.
Marisol – Mas... se a gente não se encontrar na outra vida?
– Marisol ficou preocupada e já meio chorosa..
Letícia – Que bobagem é essa? Entendendo como funciona a
reencarnação percebemos que nossa família não fica restrita aos laços de
sangue, como é a nossa. Quem sabe se Belinha já não foi sua irmã em outras
vidas?
Marisol – É mesmo. Eu gosto tanto dela! E do Toninho também!
Letícia – Bem, se eles não faziam parte de sua família
espiritual, agora fazem, não é?
Marisol – Engraçado, muito engraçado isso. Ah, mãe. Lembrei
da Bia, filha da tia Neyde.
Letícia – O que é que tem a Bia?
Marisol – Ela falou que foi adotada quando era bebezinho.
Letícia – É verdade.
Marisol – E ela parece com o pai e tem o jeito da mãe.
Letícia – Não é da família consanguínea, mas é da família
espiritual.
Marisol – Mãe, vou à casa da Belinha falar que somos irmãs.
Letícia – Lembre que todos somos irmãos porque somos filhos
de Deus.
Marisol – Ah, hah. Aí que está a diferença. Todos os homens
são irmãos, mas ela é da minha família espiritual.
Letícia – Essa menina...
Lá se
foi Marisol, mais uma vez, para a casa de Belinha contar as novidades e brincar
com a amiga do coração.
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