Marisol chegou a casa correndo com os olhos cheios de
lágrimas.
Marisol - Cadê minha mãe? – perguntou ela à ajudante do lar.
Joana - Que que é isso, menina? Tá chorando? – perguntou
Joana com o carinho de sempre. Ela gostava muito daquela danadinha.
Marisol - Cadê, Joana? – Marisol parecia que ia desatar a
chorar e não parar mais.
Vô Luiz - Que confusão é essa aí na varanda? Que é que está
havendo, minha lindinha?
Marisol
desatou a chorar. Chorou muito e muito. Quando já parecia ter aliviado todo
aquele rio de lágrimas, vô Luiz conseguiu entender a razão.
Marisol - É que na escola me chamaram de “gorda, baleia,
saco de areia”.
Vô Luiz - E o que você disse? – quis saber o vô.
Marisol - Eu falei que elas não tinham coração e que não são
gente.
Vô Luiz - Bem, meu amor, vamos esclarecer alguns pontos aí.
Primeiro: você não é baleia. Se você está meio gorduchinha é porque come bem e
está com sua saúde muito boa, pois sua mãe cuida muito bem disso. Segundo:
quando alguém maltrata outra pessoa assim, esse alguém não está certo, porque
ninguém tem o direito de maltratar ou ridicularizar ninguém. Terceiro: você
pode não ter gostado, mas elas também são gente e têm a mesma oportunidade que
você tem de crescer em tamanho e conhecimento – elas também são espírito.
Marisol - Mas o espírito delas é muito “ruim”. – disse
Marisol fechando o rosto muito aborrecida.
Vô Luiz - Mais outro detalhe: elas não têm espírito.
Marisol - Não, vô? Eu sabia que gente “ruim assim” não tem
nada. Mas... Eu pensei que todo mundo tivesse um espírito.
Vô Luiz - Na verdade, Marisol, todos nós somos espíritos.
Marisol - Se elas são espírito igual a mim, porque que elas
xingam e batem nos outros e deixam todo mundo com medo?
Vô Luiz - Porque elas precisam adquirir as virtudes que você
já tem e você aprender as que elas já têm também.
Marisol - Vô, eu não acredito. Elas são muito “ruim”.
Vô Luiz - É melhor não julgarmos, porque só Deus vê o
coração das pessoas. Às vezes, toda essa agressividade nos palavrões, nas
palavras, está nos mostrando que alguma coisa está indo muito mal na vida
delas. Quem é amado e acarinhado, dificilmente sai por aí batendo e xingando os
outros. Preste atenção, meu amor. O espírito é o princípio inteligente do
universo. A inteligência é um atributo do espírito.
Marisol - Hum...
Vô Luiz - Vamos esclarecer melhor. A porta e cadeira não
podem ser inteligentes porque são feitas de matéria. O corpo também é feito de
matéria, e ele só ganha vida porque o
espírito está ligado a ele.
Vó Vilma - Luiz, por
que tanta explicação para nossa Solzinha? – perguntou vó Vilma que vinha
chegando.
Marisol - Ah, vó... – Marisol tornou a encher os olhos de
lágrimas. – É que me chamaram de “gorda, baleia, saco de areia”.
Vó Vilma - E logo
você, uma menina tão sabida e esperta ficar gastando lágrimas com essas
bobagens? – e acariciou a cabeça de Marisol inclinada em seu colo, já que ela
havia se sentado na cadeira da varanda ao lado de vô Luiz.
Vô Luiz - Eu estava explicando para ela que todos nós somos
espíritos. – disse vô Luiz.
Vó Vilma - E eternos,
não se esqueça. – acrescentou vovó.
Marisol - Igual que nem Deus? – Marisol estava muito
interessada nesse detalhe.
Vô Luiz - Eternos porque Deus quando nos fez, nos fez para
viver eternamente.
Marisol - Ai, meu Deus! Aquelas meninas horrorosas vão me
xingar por toda a eternidade!!!!
Vô Luiz - Marisol, vamos colocar a cabeça para funcionar.
Afinal de contas seus laços são uma gracinha, seu rabo de cavalo é lindinho,
mas tudo isso é temporário. – vovô só a chamava assim quando era coisa séria e
naquele momento ele queria que ela entendesse muito bem.
Marisol - Mas, vô...É pra sempre.
Vó Vilma - Deus nos
fez eternos, mas a matéria é passageira. – vó Vilma sempre vinha com a resposta
certa.
Vô Luiz
continuou a explicar o que Marisol tinha
dificuldade para entender.
Vô Luiz - Querida, nossa matéria, nosso corpo de carne fica
só um pouquinho aqui. Nascemos, crescemos, desenvolvemo-nos de diversas
maneiras, e chega uma hora que temos que voltar para o lugar de onde viemos.
Marisol - De onde?
Vô Luiz - Da espiritualidade. Lá não precisamos deste corpo
de carne que é tão pesado e às vezes adoece. Esse corpo nasce e morre.
Marisol - Lá é todo mundo invisível?
Vô Luiz - Claro que não.
Só que o corpo se torna mais leve por não ter mais esses ossos e
músculos.
Marisol - Vira minhoca? A professora disse que se não
tivéssemos o nosso esqueleto ficaríamos moles igual às minhocas.
Vô Luiz - Marisol, você tem cada uma...
Como
sempre, lá veio minha avó em meu auxílio.
Vó Vilma - Marisol,
pense em alguém de quem você gosta.
Marisol - Hum... Pensei.
Vó Vilma - Muito bem.
Tente ver, lá dentro de sua cabecinha, o que essa pessoa está fazendo.
Marisol - Hum... Sim.
Vó Vilma - E aí? O
que você viu em sua cabecinha?
Marisol - Eu via a Belinha brincando no jardim com o Arthur.
Vô Luiz - Isso. A
vida do espírito é essa. Pensou e aí
está. Você, foi bem rapidinho à casa de
Belinha e a viu com o irmãozinho, só que você foi em pensamento. Não foi seu
corpo que pensou: foi você, Marisol, espírito eterno.
Marisol - Mas vô, as meninas vão viver para sempre me
xingando? – e lá fez muxoxo de novo.
Vô Luiz - Não, meu bem. Nascemos para aprender, progredir. O
que ela fazem de errado hoje, vão aprender que não é certo e mais tarde vão
mudar a forma de agir.
Marisol - E eu vou ficar sendo xingada assim, vó? Não é justo.
Vó Vilma - Justo e
bom, só Deus. Pense que tudo vai passar e tente não se incomodar. Não podemos
mudar os outros, mas podemos mudar a nós mesmos. Vá construindo seu tesouro.
Marisol - Meu tesouro?
Vó Vilma - Sim, meu
amor. Quanto mais nos tornamos pessoas
melhores, mais felizes ficamos, porque compreendemos que temos tudo que
precisamos. O que você precisa compreender neste momento é que suas colegas não
estão certas, mas isso não pode tirar sua paz, sua tranquilidade, porque você é
um espírito eterno, criado por Deus que a ama muito, para ser feliz. Mas não se
preocupe, porque sua mãe vai conversar com a sua professora. Está bem, docinho?
Vó Vilma deu um gostoso beijo na bochecha de
Marisol e vovô Luiz também.
Depois
de refeita das mágoas, voltou a perguntar aquilo que a tinha interessado tanto.
Marisol - Vô, como é que funciona o espírito no corpo.
Vô Luiz - Fácil, fácil de entender. Como é que você faz
quando dorme?
Marisol - Durmo, ué?
Vô Luiz - Mas você anda? Vai à escola?
Marisol - Vôôôô... Claro que não.
Vô Luiz - Por quê?
Marisol - Porque eu estou dormindo.
Vô Luiz - Porque você, Marisol, espírito, está no plano
espiritual e não no plano da matéria. Quando acorda, o espírito que está usando
esse corpo de carne com esses cachinhos, bochechas tão bonitinhos, volta a agir
na matéria. E aí vemos Marisol dar bom dia, contar suas histórias, ir para a
escola e brincar.
Marisol - Que legal! Puxa, muito bom não precisar me
aborrecer com as bobagens dos outros. Vou contar para Belinha o que aprendi.
Aposto que ela não sabe que é espírito! Já volto tá bom, vó?
Vó Vilma - Vai,
Marisol. Não demore por causa da janta.
Marisol
atravessou o jardim e lá se foi para a casa de Belinha contar mais uma vez o
que havia aprendido. Belinha estava na varanda e ficaram lá até a hora do
jantar.
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