Belinha chegou à casa de Marisol com um aquário redondo,
pequeno, cheio de coisinhas pretas nadando.
Belinha – Marisol, venha ver o que eu peguei.
Marisol – Ah, Belinha, que lindos! Quantos peixinhos!
Belinha – Marisol, não são peixinhos.
Marisol – Claro que são. Meio diferentes, é verdade, mas são
umas gracinhas.
Belinha – Marisol, isso aqui está cheio de girinos.
Marisol - Onde?
Belinha – Aqui, ó. – E falando assim, apontou para os
“peixinhos” que nadavam.
Marisol – Ah, Belinha, eu nunca tinha visto girinos de
verdade, só nos livros.
E
ficaram as duas amiguinhas se distraindo com as brincadeiras de criança. Mais
tarde, quando Belinha já estava de volta à sua casa, Marisol foi conversar com
vó Vilma.
Marisol – Vó, eu hoje até que consegui disfarçar direitinho.
Vó Vilma – Disfarçar o quê?
Marisol – Ah, vó, eu dei uma mancada...
Vó Vilma – E o que
foi? Qual foi a bobagem desta vez? – perguntou sorrindo.
Marisol – Eu chamei
girino de peixe.
Vó Vilma – E o que tem de mais em não saber as coisas.
Ninguém nasce sabendo tudo.
Marisol – É que eu fiquei sem graça. Mas, vó! Eu nunca tinha
visto girino de verdade, só nas revistas e no livro da escola.
Vó Vilma – Não se preocupe. Como os girinos, você também
está na sua infância, fase de largo aprendizado. Por isso é que não tem
problema nenhum não saber as coisas, ignorar, porque nós estamos aqui...
Marisol – Já sei. “Para aprender”.
Vó Vilma – É verdade. A vida do espírito em seu conjunto
apresenta as mesmas fases que observamos na vida corporal.
Marisol – Como assim, vó?
Vó Vilma – O espírito
vai se desenvolvendo devagar, como se fosse de um embriãozinho dentro da barriga da mamãe. Vai crescendo, nasce e chega a ser uma
criança como você que está feliz aqui conosco. Você não viu o
girino?
Marisol – Sim.
Vó Vilma – Vamos pensar no girino como o período da infância
do espírito.
Marisol – Como assim, vó?
Vó Vilma – Veja aqui. Vou fazer um desenho e você vai
colorir.
Marisol – Oba! Vou pegar meu lápis de cor.
Nesse
momento, vó Vilma começou a desenhar em
uma folha e Marisol logo logo tratou de colorir.. Assim que o desenho ficou
pronto, a avó começou a explicar à menina.
Vó Vilma – Olhe só, Marisol. Essas são as etapas de
desenvolvimento do sapo, que é o adulto.
Marisol - Hum... Primeiro vem o ovo e depois, foi assim que
eu vi no aquário que Belinha trouxe.
Vó Vilma – Depois do ovo, forma-se o girino. Um pouquinho
depois, ele cria umas patinhas. Logo, logo ele perde o rabo e então o vemos
como um sapinho.
Marisol – Engraçado... cresce pata, cresce rabo, perde rabo.
Vó Vilma – São as transformações pelas quais ele passa.
Vamos comparar com o desenvolvimento do espírito.
Marisol – Então mostra.
Vó Vilma completou.
Ovo – início da vida do espírito. É apenas instintiva.
Girino (infância) – a inteligência apenas desabrocha.
Nesse momento, Marisol quis saber:
Marisol – Vó, é como nos índios?
Vó Vilma –“ Índios” que você quer saber eu vou substituir
por “selvagens”.
Marisol – Tudo bem.
Vó Vilma – Nossos selvagens são almas no estado de infância
relativa porque já têm paixões.
Marisol – Como assim?
Vó Vilma – Paixão pela tribo, paixão pela luta, paixão pela
natureza e, às vezes por tão grande paixão eles matam com...
Marisol
já queria saber do restante do desenho e a explicação já estava mais do que
suficiente.
Marisol – Continua o desenho, vó.
E vó
Vilma continuou seu trabalho.
• Ovo –
início da vida do espírito. É apenas instintiva.
• Girino
(infância) – a inteligência apenas desabrocha.
Passa
por períodos sucessivos
Crescendo
patas
Perdendo
o rabo
Até
tornar-se um adulto (sapo) que é o estado da perfeição.
Sapo
Marisol – Ih, vó! Que legal!
Vó Vilma – Muito legal mesmo. A vida tem um começo, mas não
terá fim. Ao ficar mais “velho”, o espírito não fica como nosso corpo, cheio de
rugas, cabelos brancos, a pele mais molinha... Não... o espírito, quanto mais
velho for, mais sábio, bondoso e lindo ele se torna porque ele vai, através de
inúmeras encarnações, em diversos mundo, caminhando rumo à perfeição.
Marisol – Mas... se ele não aproveitar a encarnação dele?
Vó Vilma – Ele volta. A vida é contínua.
Nesse
instante, vó Luiz vinha chegando e foi logo chamando a atenção das duas com sua
voz possante.
Vô Luiz – Solzinha!
Marisol – Oi, vô.
Vô Luiz – Quero que você me diga o antônimo. Certo?
Marisol – Certo! Manda, vô!
Vô Luiz – O antônimo
de dia?
Marisol – Noite.
Vô Luiz – O antônimo de grande?
Marisol – Pequeno.
Vô Luiz – O antônimo de claro?
Marisol – Escuro.
Vô Luiz – O antônimo
de morte?
Marisol – Vida.
Vô Luiz – Sua resposta está co................
Marisol – Correta!
Vô Luiz – Sua resposta está com erro! – e soltou sua sonora
gargalhada.
Marisol – Ué? Como?
Vô Luiz – Porque o contrário de morte é nascimento.
Marisol – E a vida?
Vô Luiz
começou a cantar:
Pois o Evangelho a todos ensina....
O Espírito reencarna, a vida é contínua.
Marisol – Ih, vô. Não é que você me pegou?
Vô Luiz – Peguei, não é? Sua avó acabando de explicar, falou
tudinho e você...
Marisol – É que eu estava voando.
Vó Vilma – É mesmo, Solzinha. E eu pensando que você estava
prestando atenção a tudinho, heim, menina?
Marisol – Ah, vó, é que eu não gosto de dar mancada.
Vó Vilma – Ainda por causa da história dos girinos?
Marisol – É. É tão chato errar...
Vó Vilma – Todos erram. No dia que não errar mais será um
espírito...
Vô Luiz – Perfeito
como Jesus. Mas até lá...
Marisol – Eu tenho muito chão, não é?
Vô Luiz – Você só,
não. Todos nós. Colhendo experiências, progredindo na ciência e na moral.
Marisol – Mas não pode deixar alguma coisinha para a outra
encarnação?
Vô Luiz – Deixamos
sempre “muitas coisinhas” para a outra encarnação, mas quanto mais nos
adiantarmos na vida atual, mais facilitaremos a próxima. – completou vô Luiz.
Marisol – Vô, se a gente esquece as coisas quando nasce,
será que eu poderei ficar má na outra
vida?
Vô Luiz – Meu bem, a
marcha dos espíritos é progressiva, jamais retrograda.
Marisol – O quê?
Vô Luiz – Nunca volta
para trás. Tudo aquilo que você aprende e conquista tornando-se uma pessoa
melhor, não estou falando de coisas materiais...
Marisol – Eu sei, vó. Eu já sei que tudo que vocês me
ensinam é para eu ser uma pessoa melhor, menos birrenta..., não é,vó? – e deu
um olhar significativo para sua querida vozinha.
Vó Vilma – Isso mesmo, Solzinha.
Marisol – Vô, por isso que quando vó Vilma começou a me ensinar tudo isso, falou do
tesouro que eu ia conhecer.
Vô Luiz – Conhecer
só, não. Conquistar.
Vó Vilma – É isso mesmo, querida. Tudo que você conquista,
conquistas morais e intelectuais, ou seja, estudando, desenvolvendo sua
inteligência, você não perde. É você conquistando seu tesouro por toda
eternidade.
Marisol – Mas eu não nasci sabendo ler nem escrever. Eu tive
que estudar.
Vó Vilma – Certamente. Aí está o esquecimento do passado. Mas você já
reparou quantos colegas seus têm dificuldade
na escola e você vai com tanta facilidade?
Marisol – É mesmo. Nem tinha reparado nisso.
Vó Vilma – Aí ficou mal acostumada, achando que tem que
saber tudo e empacou com a história dos girinos. – completou a avó com um
sorriso doce olhando-a bem nos olhinhos de esperteza.
Marisol – Tá bom, vó. Eu entendi. Agora eu já aprendi que
eles são girinos e sei que foi bobagem ter ficado tão amolada.
Vó Vilma – Que cheirinho bom, não é Luiz?
Vô Luiz – A Letícia estava fazendo pão e acho que a fornada
já está saindo. Isso com um cafezinho...
Marisol – Vamos lá, que adoro o pão quentinho da mamãe.
E lá se
foram os três rumo à cozinha.
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