Dois dias depois de nossa conversa sobre Deus e toda Sua
grandeza, Toninho chegou com uma conversa que me embaralhou a cabeça.
Toninho - Marisol, quem veio primeiro: o ovo ou a galinha?
Marisol - Foi...
Caramba !! Eu percebi que não
sabia. Quem veio em meu auxílio foi vô Luiz.
Vô Luiz é diferente dos outros vôs: ele enxerga com os olhos da alma.
Vô Luiz - Vai, Marisol! Fale para o Toninho quem veio
primeiro. – falou vô Luiz rindo.
Marisol - Gup! – o engasgo não me deixou responder.
Vô Luiz - E você sabe, Toninho? – dessa vez meu vô pegou meu
amigo de jeito.
Toninho - É... bem... sabe como é, né?
Vô Luiz - “Como é, né”, eu não sei. Eu sei que na formação
do nosso planeta os elementos químicos já se encontravam aí, esperando o
momento certo de se agruparem e dar origem ao planeta que conhecemos hoje.
Marisol - “Elementos
químicos”? Vô, que é isso?
Vô Luiz - São os diferentes tipos de átomos que existem na
natureza.
Marisol - “Átomos”? Que é isso? – a essa altura eu e Toninho
estávamos mais do que enrolados.
Vô Luiz - São os “tijolinhos” que formam a matéria.
Toninho - Seu Luiz, explica pra gente entender. Isso é coisa
que eu nunca ouvi falar.
Vô Luiz levou a gente pra cozinha e, enquanto mamãe
preparava o almoço, ele começou a mexer nas coisas.
Ele pegou a vasilha de sal, a de açúcar, um copo com água e
uma bola de aniversário vazia.
Vô Luiz disse que o
sal é formado de tijolinhos que se chamam cloro e sódio. O açúcar é formado por
tijolinhos de de carbono, oxigênio e hidrogênio. A água é formada por
tijolinhos
de oxigênio e hidrogênio.
Daqueles
nomes todos diferentes, o único que eu
conhecia era cloro porque de vez em
quando a moça que ajuda minha mãe com a limpeza da casa fala:
- Dona
Letícia, o cloro já acabou. Tem que comprar mais.
Fiquei até preocupada. O que meu avô estava preparando?
Olhei pra bola que tinha sobrado do meu aniversário e vô Luiz pediu que eu
enchesse. Soprei. Soprei. Mas eu não sou muito boa nisso. Foi a vez de Toninho
me ajudar. Ele é mais forte. Soprou bem. A bola vermelha foi crescendo até que
meu vô falou que estava boa. Vô Luiz pegou a bola, mas não deu um nó. Olhou
para nós dois e disse:
Vô Luiz - A bola agora está cheia de ar, ar rico em gás
carbônico formado por tijolinhos de carbono e oxigênio.
Nessa hora eu protestei. Vovô falava dos tijolinhos que
formavam as coisas e agora falava de tijolinhos no ar?
Marisol - Ah, vô! Tá pensando que eu sou boba? Tijolos
formam casas e prédios, não “ar”.
Vô Luiz - Marisol, por que a bola murcha cresceu?
Marisol - Por causa do vento. – eu sabia muito bem disso.
Vô Luiz - E o vento é formado de quê?
Marisol - De nada.
Vovô, então, colocou
a bola em direção ao meu cabelo e soltou o a ponta que estava segurando.
Vô Luiz - Fuiiiiiiiiiiimmmmm...
Aquele vento saiu e fez meu cabelo sair do lugar.
Marisol - Ei, vô!
Vô Luiz - Ué... O nada mexeu no seu cabelo? Como é que
“nada” fez isso?
Danado! O vovô me pegou. Fiquei sem saída.
Marisol - Tá bom, vô. O vento é formado de quê?
Calmamente
vô Luiz continuou sua explicação para
mim e para o Tonico. Disse que aquele ar que o Tonico tinha posto lá dentro
quando soprou era formado por tijolinhos de carbono e oxigênio que formam o gás
carbônico.
Eu e Toninho ainda estávamos falando com o vovô sobre
carbono, oxigênio, hidrogênio, cloro, sódio, quando Belinha chegou com Artur,
seu irmãozinho.
Arturzinho foi para o colo da vô Vilma e minha amiga ficou
ouvindo a explicação de vô Luiz que se desenrolou como uma história de ficção.
“Há muito tempo atrás, um pedacinho do sol se desprendeu,
veio pelo espaço numa longa viagem e parou aqui, onde estamos agora. Era um
pedacinho pequeno em relação ao sol, mas grande, muito grande em relação a nós.
Como veio do sol, era um bola de fogo, cheia desses
“tijolinhos” e muitas outras coisas. Depois de muito tempo começou a esfriar e
os elementos químicos, os tijolinhos sobre os quais falamos, começaram a combinar
uns com os outros de um jeito que ninguém pode dizer como. Dessas misturas
diferentes, começaram a surgir formas, substâncias que são comuns aos seres
vivos e outras que não são.”
Demos um intervalo na conversa porque o almoço já estava
pronto. Tonico comeu comigo e o pessoal aqui de casa. Mamãe tinha feito peixe,
pirão e arroz. Vó Vilma e vô Luiz sempre descansam depois do almoço, gostam de
conversar. Eu e Tonico estávamos ainda na cozinha comendo tangerina com a
mamãe, quando tio Zezinho chegou.
Mamãe esquentou a comida para ele e nós contamos o que vô
Luiz estava ensinando para nós. Tio Zezinho é primo de minha mãe. Os dois desde
pequenos costumavam pescar com meu vô, até que, depois do acidente que deixou
vô Luiz sem enxergar, eles passaram a ir menos ao mar. Mamãe casou com o papai
e tio Zezinho continuou seus estudos.
Enquanto
ele almoçava, nós contamos para ele nossa conversa com vô Luiz, a pergunta de
Toninho, a confusão do vento cheio de tijolinhos e as dúvidas que ficaram em
nossas cabeças.
Tio Zezinho disse que era tudo muito simples e que nós
entenderíamos tudo sobre as substâncias químicas logo, logo.
Assim
aconteceu.
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