O Brasil ia jogar. A família estava toda reunida na sala.
Marisol e Belinha estavam vestidas com o verde amarelo da bandeira nacional. No
rosto, Letícia tinha pintado estrelinhas em cima de uma bolinha azul que
lembrava o centro de nossa bandeira em cada uma das bochechas das meninas. A
mãe e o pai de Belinha também iam para a comemoração festiva, mas o pequeno
Arthur estava febril, por isso resolveram ficar com ele em casa.
Marisol – Pessoal, a Belinha tem uma novidade pra contar.
Belinha – Ah, conta você.
Marisol – Não. A mãe é sua e o neném também. – falando assim, colocou a mão na
boca e arregalou os olhos. – Ih. Já contei.
Pai – Quer dizer que vem mais um neném. Que maravilha!
Belinha – É. A mamãe descobriu ontem que estava grávida.
Vô Luiz – Que Deus o envolva em bênçãos e que mais este
brasileirinho que está chegando venha para engrandecer nossa nação, a Pátria do
Evangelho.
Marisol – E do futebol! -
e soprou o apito que papai tinha comprado, no que foi seguida por
Belinha.
culto do lar.
Belinha – Quer dizer que se rezar muito o espírito que nasce
vai ser bom?
Letícia – Marisol e eu estivemos conversando, não foi? Diz
para sua amiga o que você acha.
Marisol – Hum... Será que dá?
Letícia – Dá o quê?
Marisol – Para mudar?
Vó Vilma – Você acha que é passe de mágica? Orou.
Mudou? - e vó Vilma começou a fazer
gestos de varinha de condão com a mãe – Pirlilim, salabim. Que só venha
espírito bom para perto de mim.
Marisol – Oh, vó. Assim não.
Belinha – Então explica como.
Vó Vilma – Muitas vezes um espírito que ainda não esteja bem esclarecido, que
ainda precisa melhorar muito, pede que tenha bons pais, na esperança de que
seus conselhos o encaminhem pelo caminho do bem.
Belinha – Mas se a gente orar não adianta?
Augusto – É o que a vovó estava explicando. Não é passe de
mágica. Só Deus sabe quem é que está chegando para sua casa. Mas as preces
podem ajudar o espírito.
Belinha – E se forem gêmeos? A mamãe é gêmea da tia Lucília.
Marisol – É, mãe. A tia Lúcia é igualzinha à irmã dela.
Vô Luiz – Se são espíritos simpáticos, se aproximam por
sentimentos iguais e se sentem felizes por estar juntos.
Belinha – Então, quando nasce, nasce igual como era antes?
Vó Vilma – Isso pode acontecer. Mas se ele melhora, ele
muda. Pode ser também que a posição social seja outra.
Marisol – Como assim?
Augusto – Imagine que ele era um escravo e agora nasce numa
família com uma situação financeira regular, com uma casa confortável,
comida... Pode ser que ainda se sinta inseguro, achando que vai faltar comida.
Coisas desse tipo.
Letícia – Mas pode ser que tenha sido rico e reencarne numa
família pobre. Nesse caso, vai achar que aquele lugar não lhe pertence, vai ter
gostos que a família vai estranhar, por nunca ter usufruído nessa vida e ainda
assim achar que é seu direito.
Vô Luiz – Podem existir certas semelhanças entre sua forma
de ser de outras vidas, modificadas pelos hábitos da posição que ocupe. Mas o
importante disso tudo é observar que gradativamente o caráter vai mudando: de
orgulhoso e mau, vai tornando-se humilde e bondoso à medida que se arrepende
dos erros cometidos.
Belinha – E o corpo
vem igual como era?
Vó Vilma – O corpo
novo não tem nada a ver com o anterior que já foi destruído. No entanto,
o espírito se reflete no corpo.
Marisol – Vó, mas o corpo é de carne.
Vó Vilma – Mas pelas
capacidades do espírito, vemos sua influência no corpo físico.
Augusto – Já perceberam que certas pessoas não são muito
bonitas fisicamente, mas têm um quê de especial e que atrai e agrada às
pessoas?
Marisol – É. Tem jogadores que não são tão bonitos nas
fotos, mas todo mundo gosta porque são muito bons, sorridentes e a gente nem
fala que eles não são bonitos.
Belinha – Mas tem gente que é bonita por fora, mas não
agrada.
Vô Luiz – “Por fora bela viola. Por dentro, pão bolorento.”
Belinha – Que isso?
Mãe – É o que estamos falando. A pessoa é bonita por for, ou
seja, tem um corpo bonito, rosto bonito, mas seu jeito não agrada.
Marisol – Mãe, no outro dia vi uma moça na rua comendo uma
quentinha. Ela estava muito suja, tadinha. As mãos estavam muito sujas também,
mas ela comia de um jeito diferente, engraçado, toda esticada. Parecia até que
estava num salão chique.
Letícia – Quem sabe, não é, o que ela já viveu em outras
encarnações e agora passa por tão grande provação.
Belinha – E eu vi um menino que tocava na rua para ajudar
sua família uma porção de instrumentos. A mãe dele falou que ele pediu tanto
que ela conseguiu com algumas pessoas dar um jeito de arranjar os instrumentos
que ele tanto pedia.
Marisol – Puxa! Eu queria pegar os instrumentos e tocar de
uma vez.
Vô Luiz – Tudo que a pessoa aprendeu fica com ela. Se esse
menino toca com tanta facilidade nesta vida, sem ter aprendido agora a tocar, é
porque aprendeu na outra passada ou nas outras. Mas pode ser que algum de nós
já tenha desenvolvido bem uma capacidade e tê-la deixado adormecida nessa atual
para desenvolver outras. Mas tarde pode ser que reapareça.
Augusto – Mas precisamos exercitar muito. Vejamos os
jogadores. Exercitam-se muito. Às vezes até se machucam, ficam afastados por um
período e depois retornam aos treinos. Eles sentem dores, mas não desistem.
Vó Vilma – E assim somos nós. As faculdades extraordinárias
que observamos em algumas pessoas é fruto de trabalho e determinação. Se não
desenvolveu nessa vida, desenvolveu em outra e agora colhe os frutos através da
facilidade.
Letícia – Tem uma frase que diz: “Toda virtude um dia já foi
disciplina.”
Belinha – E o que é isso?
Marisol – A gente tem que se esforçar. Seu irmãozinho que
vai nascer precisa de muita ajuda para ser uma pessoa de bem. Mas nós estamos
aqui para isso, não é, Belinha?
Vô Luiz – E se for um menininho, quem sabe não vai ser um
craque a fazer um GOOOOOOOOOOL pelo nosso Brasil.
Augusto – Se ele vai, só Deus sabe, mas que o jogo já vai
começar, é a certeza que tenho nesse
momento.
Letícia – Vou fazer as pipocas e pegar o guaraná. Marisol!
Belinha! Venham pegar os copos.
O
narrador dava início a mais uma história de nossa seleção e uma nova vida se
preparava para integrar esta grande nação chamada Brasil.