Como ler o livro

Por ser um blog, as postagens mais recentes ficam à frente. Portanto, vejam desde a introdução, os capítulos na sequência numérica. Leiam o 1º capítulo, depois o 2º e por aí vai.
Espero que aprendam, se divirtam e se emocionem com Marisol, sua família e seus amigos.

Atenciosamente,
Sonia da Palma

Contato:
soniadapalma@yahoo.com.br

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Capítulo 20 - Um bebê vai chegar


O Brasil ia jogar. A família estava toda reunida na sala. Marisol e Belinha estavam vestidas com o verde amarelo da bandeira nacional. No rosto, Letícia tinha pintado estrelinhas em cima de uma bolinha azul que lembrava o centro de nossa bandeira em cada uma das bochechas das meninas. A mãe e o pai de Belinha também iam para a comemoração festiva, mas o pequeno Arthur estava febril, por isso resolveram ficar com ele em casa.

Marisol – Pessoal, a Belinha tem uma novidade pra contar.
Belinha – Ah, conta você.
Marisol – Não. A mãe é sua e o neném  também. – falando assim, colocou a mão na boca e arregalou os olhos. – Ih. Já contei.
Pai – Quer dizer que vem mais um neném. Que maravilha!
Belinha – É. A mamãe descobriu ontem que estava grávida.
Vô Luiz – Que Deus o envolva em bênçãos e que mais este brasileirinho que está chegando venha para engrandecer nossa nação, a Pátria do Evangelho.
Marisol – E do futebol! -  e soprou o apito que papai tinha comprado, no que foi seguida por Belinha.
culto do lar.
Belinha – Quer dizer que se rezar muito o espírito que nasce vai ser bom?
Letícia – Marisol e eu estivemos conversando, não foi? Diz para sua amiga o que você acha.
Marisol – Hum... Será que dá?
Letícia – Dá o quê?
Marisol – Para mudar?
Vó Vilma – Você acha que é passe de mágica? Orou. Mudou?  - e vó Vilma começou a fazer gestos de varinha de condão com a mãe – Pirlilim, salabim. Que só venha espírito bom para perto de mim.
Marisol – Oh, vó. Assim não.
Belinha – Então explica como.
Vó Vilma – Muitas vezes um espírito  que ainda não esteja bem esclarecido, que ainda precisa melhorar muito, pede que tenha bons pais, na esperança de que seus conselhos o encaminhem pelo caminho do bem.
Belinha – Mas se a gente orar não adianta?
Augusto – É o que a vovó estava explicando. Não é passe de mágica. Só Deus sabe quem é que está chegando para sua casa. Mas as preces podem ajudar o espírito.
Belinha – E se forem gêmeos? A mamãe é gêmea da tia Lucília.
Marisol – É, mãe. A tia Lúcia é igualzinha à irmã dela.
Vô Luiz – Se são espíritos simpáticos, se aproximam por sentimentos iguais e se sentem felizes por estar juntos.
Belinha – Então, quando nasce, nasce igual como era antes?
Vó Vilma – Isso pode acontecer. Mas se ele melhora, ele muda. Pode ser também que a posição social seja outra.
Marisol – Como assim?
Augusto – Imagine que ele era um escravo e agora nasce numa família com uma situação financeira regular, com uma casa confortável, comida... Pode ser que ainda se sinta inseguro, achando que vai faltar comida. Coisas desse tipo.
Letícia – Mas pode ser que tenha sido rico e reencarne numa família pobre. Nesse caso, vai achar que aquele lugar não lhe pertence, vai ter gostos que a família vai estranhar, por nunca ter usufruído nessa vida e ainda assim achar que  é seu direito.
Vô Luiz – Podem existir certas semelhanças entre sua forma de ser de outras vidas, modificadas pelos hábitos da posição que ocupe. Mas o importante disso tudo é observar que gradativamente o caráter vai mudando: de orgulhoso e mau, vai tornando-se humilde e bondoso à medida que se arrepende dos erros cometidos.
Belinha – E  o corpo vem igual como era?
Vó Vilma – O corpo  novo não tem nada a ver com o anterior que já foi destruído. No entanto, o espírito se reflete no corpo.
Marisol – Vó, mas o corpo é de carne.
  Vilma – Mas pelas capacidades do espírito, vemos sua influência no corpo físico.
Augusto – Já perceberam que certas pessoas não são muito bonitas fisicamente, mas têm um quê de especial e que atrai e agrada às pessoas?
Marisol – É. Tem jogadores que não são tão bonitos nas fotos, mas todo mundo gosta porque são muito bons, sorridentes e a gente nem fala que eles não são bonitos.
Belinha – Mas tem gente que é bonita por fora, mas não agrada.
Vô Luiz – “Por fora bela viola. Por dentro, pão bolorento.”
Belinha – Que isso?
Mãe – É o que estamos falando. A pessoa é bonita por for, ou seja, tem um corpo bonito, rosto bonito, mas seu jeito não agrada.
Marisol – Mãe, no outro dia vi uma moça na rua comendo uma quentinha. Ela estava muito suja, tadinha. As mãos estavam muito sujas também, mas ela comia de um jeito diferente, engraçado, toda esticada. Parecia até que estava num salão chique.
Letícia – Quem sabe, não é, o que ela já viveu em outras encarnações e agora passa por tão grande provação.
Belinha – E eu vi um menino que tocava na rua para ajudar sua família uma porção de instrumentos. A mãe dele falou que ele pediu tanto que ela conseguiu com algumas pessoas dar um jeito de arranjar os instrumentos que ele tanto pedia.
Marisol – Puxa! Eu queria pegar os instrumentos e tocar de uma vez.
Vô Luiz – Tudo que a pessoa aprendeu fica com ela. Se esse menino toca com tanta facilidade nesta vida, sem ter aprendido agora a tocar, é porque aprendeu na outra passada ou nas outras. Mas pode ser que algum de nós já tenha desenvolvido bem uma capacidade e tê-la deixado adormecida nessa atual para desenvolver outras. Mas tarde pode ser que reapareça.
Augusto – Mas precisamos exercitar muito. Vejamos os jogadores. Exercitam-se muito. Às vezes até se machucam, ficam afastados por um período e depois retornam aos treinos. Eles sentem dores, mas não desistem.
Vó Vilma – E assim somos nós. As faculdades extraordinárias que observamos em algumas pessoas é fruto de trabalho e determinação. Se não desenvolveu nessa vida, desenvolveu em outra e agora colhe os frutos através da facilidade.
Letícia – Tem uma frase que diz: “Toda virtude um dia já foi disciplina.”
Belinha – E o que é isso?
Marisol – A gente tem que se esforçar. Seu irmãozinho que vai nascer precisa de muita ajuda para ser uma pessoa de bem. Mas nós estamos aqui para isso, não é, Belinha?
Vô Luiz – E se for um menininho, quem sabe não vai ser um craque a fazer um GOOOOOOOOOOL pelo nosso Brasil.
Augusto – Se ele vai, só Deus sabe, mas que o jogo já vai começar, é a  certeza que tenho nesse momento.
Letícia – Vou fazer as pipocas e pegar o guaraná. Marisol! Belinha! Venham pegar os copos.

                O narrador dava início a mais uma história de nossa seleção e uma nova vida se preparava para integrar esta grande nação chamada Brasil.








Capítulo 19 - Parentesco e filiação



Marisol – Mãe, eu pareço com você e com o papai, não é?
Letícia – Você parece comigo quando eu era da sua idade.
Marisol – Mas do papai eu puxei muita curiosidade, o jeito de dormir e a facilidade para aprender.
Letícia – Nesse caso, eu já não posso confirmar.
Marisol – Ué, mãe? Por que não?
Letícia – Porque os pais ajudam os bebês a nascerem dando-lhes o corpo físico, mas a alma, não.
Marisol – Mas eu não pareço com ele, não tenho o jeito dele falar e tudo?
Letícia – O que acontece é que vocês são espíritos simpáticos e se sentem felizes por estarem juntos.
Marisol – Ah, eu acho o papai muito simpático, de verdade!
Letícia – Não desse jeito. Simpático porque há afinidade entre vocês. Você gosta das mesmas coisas e isso faz com que exista esta semelhança entre vocês dois.

                Marisol fez cara de vitoriosa com a explicação da mãe. Ela gostava muito do pai. A mãe continuou:

Letícia – Nós, os pais, temos grande responsabilidade com os filhos porque os influenciamos muito.
Marisol – Você vai ser sempre minha mãe, não é? E papai também.
Letícia – Só Deus sabe das nossas necessidades. Estamos aqui na Terra para ajudar o progresso uns dos outros. Como lhe falei, nós, os pais, temos a missão de desenvolver os filhos pela educação.
Marisol – Mas você não ser sempre a minha mãe? Eu não quero outra mãe.
Letícia – Ah, Solzinha, eu poderei ser seu irmão, seu pai poderá ser sua avó ou sua mãe.
Marisol – Ih, mãe. Que isso? Você é mulher e papai é homem.
Letícia – Mas reencarnamos em corpos adequados para nossa aprendizagem: ora estamos num corpo masculino, ora num corpo feminino.
Marisol – Isso é muuuuuuuuito esquisito. Os meninos lá da escola nem gostam de cantar as músicas porque dizem que é coisa de garota.
Letícia – Se eles soubessem que já foram mulheres em outra encarnação, não ficariam tão preocupados em definir sua masculinidade.
Marisol – Se já foi mulher e hoje é homem, como é que fica quando não tem um corpo de carne? Qual é o sexo na es- pi-ri-tu-a-li-da-de?
Letícia – Não é como imaginamos, como  entendemos.
Marisol – Não?
Letícia – Não. Mas depois conversamos mais sobre isso.
Marisol – Mãe, já pensou você e papai como homem os dois? Não dá certo. Tem que ser um  homem o outro mulher.
Letícia – Sol, o que une os espíritos é o amor e a simpatia, baseados na concordância de sentimentos. Imagine que só reencarnássemos em um determinado tipo de corpo: só homem, só homem, só homem.
Marisol – Qual o problema?
Letícia – Como  é que aquele espírito aprenderia a doçura e a felicidade de ser mãe? Isso só acontece quando vive a experiência. E para isso, precisa reencarnar num corpo feminino para gerar um bebê em sua barriga, dar de mamar... Entende?

                Nesse momento, os olhos de Marisol se encheram de lágrimas, e, brilhando, pensava na ternura da maternidade.

Letícia – Viu, minha filha? Você gosta tanto de brincar com suas bonecas. Um dia, com a permissão de Deus, você também vai ter a felicidade de ter um filhinho seu..
Marisol – É, mãe. Homem não pode ter neném.
Letícia – Mas nem por isso deixa de ter o anseio da paternidade. Lembra do Pedro Paulo, primo da Belinha?
Marisol – O que é que tem o Pedro Paulo?
Letícia – Ele estava com 11 anos e já suspirava por encontrar uma namorada com que pudesse se casar e constituir família.
Marisol – Ele agora tem 16 anos.
Letícia – E ainda continua  no desejo firme de constituir uma família  e ter filhos. Isso vai de cada um. Cada pessoa guarda desejos e sonhos que, muitas vezes, só Deus conhece.
Marisol – Mas o homem não é diferente?
Letícia – A constituição física sim. Enquanto num corpo masculino, o espírito desenvolve a força para lutar pela sobrevivência, o cuidar, o prover as necessidades de si mesmo e, posteriormente, da família.
Marisol – Todos são importantes, então?
Letícia – Certamente. O espírito encarna como homem ou como mulher porque não tem sexo. Precisa progredir. E como homem aprende deveres especiais, tem provações também. Com isso, vai ganhando experiência.
Marisol – Mas... se a gente não se encontrar na outra vida? – Marisol ficou preocupada e já meio chorosa..
Letícia – Que bobagem é essa? Entendendo como funciona a reencarnação percebemos que nossa família não fica restrita aos laços de sangue, como é a nossa. Quem sabe se Belinha já não foi sua irmã em outras vidas?
Marisol – É mesmo. Eu gosto tanto dela! E do Toninho também!
Letícia – Bem, se eles não faziam parte de sua família espiritual, agora fazem, não é?
Marisol – Engraçado, muito engraçado isso. Ah, mãe. Lembrei da Bia, filha da tia Neyde.
Letícia – O que é que tem a Bia?
Marisol – Ela falou que foi adotada quando era bebezinho.
Letícia – É verdade.
Marisol – E ela parece com o pai e tem o jeito da mãe.
Letícia – Não é da família consanguínea, mas é da família espiritual.
Marisol – Mãe, vou à casa da Belinha falar que somos irmãs.
Letícia – Lembre que todos somos irmãos porque somos filhos de Deus.
Marisol – Ah, hah. Aí que está a diferença. Todos os homens são irmãos, mas ela é da minha família espiritual.
Letícia – Essa menina...

                Lá se foi Marisol, mais uma vez, para a casa de Belinha contar as novidades e brincar com a amiga do coração.

Capítulo 18 - Transmigrações progressivas


Belinha chegou à casa de Marisol com um aquário redondo, pequeno, cheio de coisinhas pretas nadando.

Belinha – Marisol, venha ver o que eu peguei.
Marisol – Ah, Belinha, que lindos! Quantos peixinhos!
Belinha – Marisol, não são peixinhos.
Marisol – Claro que são. Meio diferentes, é verdade, mas são umas gracinhas.
Belinha – Marisol, isso aqui está cheio de girinos.
Marisol - Onde?
Belinha – Aqui, ó. – E falando assim, apontou para os “peixinhos” que nadavam.
Marisol – Ah, Belinha, eu nunca tinha visto girinos de verdade, só nos livros.

                E ficaram as duas amiguinhas se distraindo com as brincadeiras de criança. Mais tarde, quando Belinha já estava de volta à sua casa, Marisol foi conversar com vó Vilma.

Marisol – Vó, eu hoje até que consegui disfarçar direitinho.
Vó Vilma – Disfarçar o quê?
Marisol – Ah, vó, eu dei uma mancada...
Vó Vilma –  E o que foi? Qual foi a bobagem desta vez? – perguntou sorrindo.
Marisol – Eu chamei  girino de peixe.
Vó Vilma – E o que tem de mais em não saber as coisas. Ninguém nasce sabendo tudo.
Marisol – É que eu fiquei sem graça. Mas, vó! Eu nunca tinha visto girino de verdade, só nas revistas e no livro da escola.
Vó Vilma – Não se preocupe. Como os girinos, você também está na sua infância, fase de largo aprendizado. Por isso é que não tem problema nenhum não saber as coisas, ignorar, porque nós estamos aqui...
Marisol – Já sei. “Para aprender”.
Vó Vilma – É verdade. A vida do espírito em seu conjunto apresenta as mesmas fases que observamos na vida corporal.
Marisol – Como assim, vó?
Vó Vilma –  O espírito vai se desenvolvendo devagar, como se fosse de um embriãozinho  dentro da barriga da mamãe. Vai  crescendo, nasce e chega a ser uma criança  como você  que está feliz aqui conosco. Você não viu o girino?
Marisol – Sim.
Vó Vilma – Vamos pensar no girino como o período da infância do espírito.
Marisol – Como assim, vó?
Vó Vilma – Veja aqui. Vou fazer um desenho e você vai colorir.
Marisol – Oba! Vou pegar meu lápis de cor.

                Nesse momento, vó Vilma  começou a desenhar em uma folha e Marisol logo logo tratou de colorir.. Assim que o desenho ficou pronto, a avó começou a explicar à menina.


Vó Vilma – Olhe só, Marisol. Essas são as etapas de desenvolvimento do sapo, que é o adulto.
Marisol - Hum... Primeiro vem o ovo e depois, foi assim que eu vi no aquário que Belinha trouxe.
Vó Vilma – Depois do ovo, forma-se o girino. Um pouquinho depois, ele cria umas patinhas. Logo, logo ele perde o rabo e então o vemos como um sapinho.
Marisol – Engraçado... cresce pata,  cresce rabo, perde rabo.
Vó Vilma – São as transformações pelas quais ele passa. Vamos comparar com o desenvolvimento do espírito.
Marisol – Então mostra.

Vó Vilma completou.

Ovo – início da vida do espírito. É apenas instintiva.
Girino (infância) – a inteligência apenas desabrocha.

Nesse momento, Marisol quis saber:

Marisol – Vó, é como nos índios?
Vó Vilma –“ Índios” que você quer saber eu vou substituir por “selvagens”.
Marisol – Tudo bem.
Vó Vilma – Nossos selvagens são almas no estado de infância relativa porque já têm paixões.
Marisol – Como assim?
Vó Vilma – Paixão pela tribo, paixão pela luta, paixão pela natureza e, às vezes por tão grande paixão eles matam com...

                Marisol já queria saber do restante do desenho e a explicação já estava mais do que suficiente.

Marisol – Continua o desenho, vó.

                E vó Vilma continuou seu trabalho.
             Ovo – início da vida do espírito. É apenas instintiva.
             Girino (infância) – a inteligência apenas desabrocha.
                               Passa por períodos sucessivos
             Crescendo patas
             Perdendo o rabo
                Até tornar-se um adulto (sapo) que é o estado da perfeição.
             Sapo
Marisol – Ih, vó! Que legal!
Vó Vilma – Muito legal mesmo. A vida tem um começo, mas não terá fim. Ao ficar mais “velho”, o espírito não fica como nosso corpo, cheio de rugas, cabelos brancos, a pele mais molinha... Não... o espírito, quanto mais velho for, mais sábio, bondoso e lindo ele se torna porque ele vai, através de inúmeras encarnações, em diversos mundo, caminhando rumo à perfeição.
Marisol – Mas... se ele não aproveitar a encarnação dele?
Vó Vilma – Ele volta. A vida é contínua.

                Nesse instante, vó Luiz vinha chegando e foi logo chamando a atenção das duas com sua voz possante.

Vô Luiz – Solzinha!
Marisol – Oi, vô.
Vô Luiz – Quero que você me diga o antônimo. Certo?
Marisol – Certo! Manda, vô!
Vô Luiz – O antônimo  de dia?
Marisol – Noite.
Vô Luiz – O antônimo de grande?
Marisol – Pequeno.
Vô Luiz – O antônimo de claro?
Marisol – Escuro.
Vô Luiz – O antônimo  de morte?
Marisol – Vida.
Vô Luiz – Sua resposta está co................
Marisol – Correta!
Vô Luiz – Sua resposta está com erro! – e soltou sua sonora gargalhada.
Marisol – Ué? Como?
Vô Luiz – Porque o contrário de morte é nascimento.
Marisol – E a vida?

                Vô Luiz começou a cantar:
Pois o Evangelho a todos ensina....
O Espírito reencarna, a vida é contínua.

Marisol – Ih, vô. Não é que você me pegou?
Vô Luiz – Peguei, não é? Sua avó acabando de explicar, falou tudinho e você...
Marisol – É que eu estava voando.
Vó Vilma – É mesmo, Solzinha. E eu pensando que você estava prestando atenção a tudinho, heim, menina?
Marisol – Ah, vó, é que eu não gosto de dar mancada.
Vó Vilma – Ainda por causa da história dos girinos?
Marisol – É. É tão chato errar...
Vó Vilma – Todos erram. No dia que não errar mais será um espírito...
Vô Luiz  – Perfeito como Jesus. Mas até lá...
Marisol – Eu tenho muito chão, não é?
Vô Luiz  – Você só, não. Todos nós. Colhendo experiências, progredindo na ciência e na moral.
Marisol – Mas não pode deixar alguma coisinha para a outra encarnação?
Vô Luiz  – Deixamos sempre “muitas coisinhas” para a outra encarnação, mas quanto mais nos adiantarmos na vida atual, mais facilitaremos a próxima. – completou vô Luiz.
Marisol – Vô, se a gente esquece as coisas quando nasce, será que eu  poderei ficar má na outra vida?
Vô Luiz  – Meu bem, a marcha dos espíritos é progressiva, jamais retrograda.
Marisol – O quê?
Vô Luiz  – Nunca volta para trás. Tudo aquilo que você aprende e conquista tornando-se uma pessoa melhor, não estou falando de coisas materiais...
Marisol – Eu sei, vó. Eu já sei que tudo que vocês me ensinam é para eu ser uma pessoa melhor, menos birrenta..., não é,vó? – e deu um olhar significativo para sua querida vozinha.
Vó Vilma – Isso mesmo, Solzinha.
Marisol – Vô, por isso que quando vó Vilma  começou a me ensinar tudo isso, falou do tesouro que eu ia conhecer.
Vô Luiz  – Conhecer só, não. Conquistar.
Vó Vilma – É isso mesmo, querida. Tudo que você conquista, conquistas morais e intelectuais, ou seja, estudando, desenvolvendo sua inteligência, você não perde. É você conquistando seu tesouro por toda eternidade.
Marisol – Mas eu não nasci sabendo ler nem escrever. Eu tive que estudar.
Vó Vilma – Certamente. Aí está  o esquecimento do passado. Mas você já reparou quantos colegas seus têm dificuldade  na escola e você vai com tanta facilidade?
Marisol – É mesmo. Nem tinha reparado nisso.
Vó Vilma – Aí ficou mal acostumada, achando que tem que saber tudo e empacou com a história dos girinos. – completou a avó com um sorriso doce olhando-a bem nos olhinhos de esperteza.
Marisol – Tá bom, vó. Eu entendi. Agora eu já aprendi que eles são girinos e sei que foi bobagem ter ficado tão amolada.
Vó Vilma – Que cheirinho bom, não é Luiz?
Vô Luiz – A Letícia estava fazendo pão e acho que a fornada já está saindo. Isso com um cafezinho...
Marisol – Vamos lá, que adoro o pão quentinho da mamãe.

                E lá se foram os três rumo à cozinha.

Capítulo 17 - A encarnação nos diferentes mundos



                Dia de domingo, dia de música.

O pai de Marisol poucas vezes ficava em casa, por isso, toda vez que tinha uma folga – normalmente aos domingos – colocava os cds de música clássica.

Augusto - É esta, Marisol? Lembra? – perguntou o pai.
Marisol - Esta é de Villa-Lobos: O Trenzinho Caipira.

                Marisol estava ficando craque em conhecer as músicas e seus compositores porque seu pai fazia questão de falar sobre cada um deles e suas histórias.

Ao colocar A Pequena Música Noturna para tocar, começou a falar com a filha como se estivesse pensando alto.

Augusto - Que obra prima, minha filha.  Imaginar que teve uma vida tão difícil aqui na Terra e hoje em dia habita em Júpiter... – e ficou olhando para o ar como se estivesse vendo maravilhas.
Marisol - Quem?
Augusto  - Mozart.
Marisol - Mozart mora em Júpiter? Mas ele não morava aqui na Terra?
Augusto – Sim,  ele nasceu em Salzburg e morreu  em Viena, na  Áustria.
Marisol – Há muito tempo?
Augusto – Tem algum tempo sim. Ele nasceu dia  27 de janeiro de 1756 em Salzburg, e morreu em Viena dia 6 de dezembro de 1791.
Marisol - Você falou que ele começou a estudar cravo com o pai aos três anos e que aos seis anos escrevia músicas. Tão pequenininho, não é?
Augusto – É verdade, minha filha. Ele começou a compor muito cedo.
Marisol - Você  falou que ele tocava teclado.
Augusto –  Teclado, não. O nome do instrumento é órgão, mas é bem parecido com o teclado. Mozart  era organista da corte do rei.
Marisol – Pai, você sabe tudo!
Augusto – Querida, é só ler, estudar.
Marisol – Você gosta muito de ler, eu sei. Mas você nunca me falou de Júpiter!

                Marisol parecia ofendida como se um segredo muito importante lhe tivesse sido escondido.

Augusto - É que eu não lembrei. – falou o pai meio desconcertado.
Marisol - Como ele foi parar lá?
Augusto - Marisol, vamos ouvir a música. – falou o pai antevendo uma longa, longuíssima conversa.
Marisol - Ele foi para lá de ônibus espacial? Sim, porque só de ônibus espacial se vai para outros lugares do universo. Eu quero saber...
Augusto - Minha filha, a música é tão linda.
Marisol - É linda mas eu quero saber como é que ele foi parar lá.

                Todo clima de apreciação musical tinha ido para o brejo. O pai de Marisol já estava arrependido de ter feito o comentário porque até que ela entendesse tudinho ia ser uma chuva de perguntas.
Augusto – Sim, Marisol. Pode perguntar.
Marisol - Perguntar? Pai, eu já fiz um monte de perguntas e você não respondeu nenhuma.
Augusto - Ah, sim. Desculpe-me. Pode repetir as perguntas?
Marisol - Hum... Por que ele foi pra lá? Ele não era aqui da Terra?
Augusto - Marisol, uma pergunta de cada vez, sim? Se você atropela as pessoas com uma pergunta atrás da outra, não dá para organizar o pensamento.
Marisol - Tá bom, pai. Desculpe. Vou perguntar de forma organizada. Ele não era aqui da Terra?
Augusto - Sim, mas o espírito vive em diferentes mundos. Nós não estamos vivendo aqui na Terra pela primeira vez.
Marisol - É, o vô Luiz e a vó Vilma já me ensinaram que vivemos muitas e muitas vidas porque “não dá, não dá, não dá uma só existência pra tudo aprender... por isso tal é a lei...” – Marisol cantava a música que tinha aprendido com os avós.

Nesse momento o pai canta junto com ela:

Augusto e Marisol - “Nascer morrer e renascer. Por isso, tal é a lei: nascer, morrer e renascer.”
Augusto - Isso mesmo, Marisol. Nascemos muitas vezes em diferentes mundos. Quando o espírito já se adiantou bastante, ele vai para um mundo melhor do que o que ele está. Foi o caso de Mozart.
Marisol - Mas ele não pode renascer aqui de novo?  
Augusto - Sim, mas ele já tinha progredido. Foi para Júpiter, que é mais evoluído do que a Terra.
Marisol - Ah... Que pena!
Augusto - Lá ele pode progredir mais. Imagine se você, que já está na 4ª série, voltasse a estudar na 1ª?
Marisol - Pra quê?
Augusto - Pois é. Para que ele renasceria aqui se ele já está mais adiantado?
Marisol - É verdade.
Augusto - Mas ele poderia.
Marisol - Ué? É?
Augusto - Sim. Estando em missão,  para ajudar o progresso daqueles que estão aqui.
Marisol - Hum?!?!
Augusto - Lembre-se de quem veio à Terra perfeito, puro, para nos ensinar o caminho para Deus.
Marisol - Jesus! 
Augusto - Isso mesmo.
Marisol - Ah, então, todo mundo que reencarna em um mundo inferior está tem missão?
Augusto - No caso de espíritos que evoluíram, sim. Pode acontecer de o espírito reencarnar num mundo inferior ao que estava como expiação.
Marisol - O que é isso?
Augusto - É quando temos uma vida muito difícil para poder quitar débitos muito graves do pretérito.
Marisol - E o que é débito e grave?
Augusto - Débito é uma dívida. Grave é porque é algo muito grande. Vamos supor que eu tenha tantas dívidas para pagar que tenha que vender a casa para pagar, para quitar esses débitos.
Marisol - Nossa! Isso é muito sério!
Augusto - As dívidas que temos que saldar...
Marisol - Com Deus?
Augusto - Não, perante Deus, pai de amor e perante nossa própria consciência.
Marisol - Entendi.
Augusto -  Só começamos a “pagar”  essas dívidas muito sérias  quando entendemos que erramos muito, Se não entendemos, não adianta porque ficamos revoltados, reclamamos. Quando já podemos saldar é através da expiação.
Marisol - Por que o espírito muito endividado nasce em expiação num planeta inferior?
Augusto - Ah., Marisol, já pensou morar num local em que você vai ter que pegar animais e matá-los para comer?
Marisol - Eu, heim, pai?!?! O mercado está cheio de comidas pré-cozidas e a galinha e a carne de vaca já vêm prontinhas para a mamãe colocar na panela porque EU vejo que é assim que ela faz.
Augusto - Mas se reencarnar num mundo inferior ao nosso, não vai ter supermercado com tudo prontinho, não. Tem que ir atrás na natureza mesmo.
 Marisol - Jesus!!!!! Essa expiação é muito ruim.
Augusto - Certamente. Por isso é que temos que estar sempre no caminho do bem.
Marisol - Pai, será que o Mozart está agora como aqueles ETs que aparecem nos filmes?
Augusto - Marisol, se ele é um espírito mais evoluído, mais adiantado, você acha normal que ele tenha um corpo de monstro?
Marisol - Não.
Augusto - Então... O espírito precisa de um envoltório para poder atuar sobre a matéria e essa matéria é de acordo com o planeta que está.
Marisol - Ah... a mamãe falou sobre isso, sobre perispírito que pega a matéria do mundo onde está.
Augusto - Isso mesmo. Ela me contou das perguntas que você foi fazendo sobre diversos planetas.
Marisol - É isso mesmo, pai. Quer ver?

                Ela já ia começar a enumerar os planetas e de onde se tira a matéria do perispírito, quando o pai a interrompeu:
Augusto - Não, minha filha. Vamos continuar. Quando você vê o desenho da imagem de Jesus, o que você sente?
Marisol - Nossa! Ele é muito lindo! Eu fecho os olhos e vejo o rosto dele tão bonito..., um sorriso meigo olhando para mim. Aí eu me sinto calma.
Augusto - Jesus foi o espírito mais evoluído que passou aqui pela Terra. Na verdade, ele é o governador de nosso planeta.
Marisol - Como assim?
Augusto - Nossa cidade tem um prefeito, nosso estado tem um...
Marisol - Governador!
Augusto - Nosso país tem um...
Marisol - Presidente!
Augusto - E o nosso planeta tem Jesus que toma conta dele na espiritualidade e que está sempre ajudando a resolver  todos os problemas.
Marisol - Puxa... Ele é mais importante ainda do que eu pensava!
Augusto - Pois é. Um espírito evoluído passa paz, harmonia, felicidade e força.
Marisol - É, pai. Não dá para ser como os monstros do filme porque eles sempre querem invadir a Terra e destruir os terráqueos.
Augusto - E o espírito, quanto mais evoluído ele é, mais ele quer...
Marisol - ...ajudar às pessoas.
Augusto - Isso mesmo.
Marisol - Pai, quando ele foi pra lá, como é que ele foi?
Augusto - Você quer saber o quê?
Marisol - Como é que se muda para outro planeta?
Augusto - Vamos ver. – O pai pensou em uma forma bem fácil de Marisol entender. – Preste atenção, filha. Nós estamos encarnados, não é?
Marisol - É.
Augusto - Moramos onde?
Marisol - No planeta Terra.
Augusto - Isso. Moramos em que plano do planeta Terra?
Marisol - Plano?!?!
Augusto - É, Marisol. Em que parte: plano físico ou plano espiritual?
Marisol - Ah, entendi. Nós moramos no plano físico.
Augusto - Correto. Quando uma pessoa desencarna, ela vai habitar em que plano?
Marisol - Plano espiritual.
Augusto - Certo. Como é que os espíritos se locomovem no plano espiritual?
Marisol - Hum.... Não sei.
Augusto - Pelo pensamento. Para distâncias mais longas vão de veículos especiais, como temos aqui na Terra.
Marisol - É mesmo? Que legal! E aí como  é a mudança pra lá?
Augusto - O espírito vai para o plano espiritual do outro planeta. É uma longa viagem. Depois que estiver lá acomodado...
Marisol – Ei,pai!  Mamãe falou que quando a gente vai para outro planeta o perispírito muda.
Augusto - Ele se reveste da matéria própria desse outro mundo, mas essa mudança se dá com a rapidez de um relâmpago.
Marisol - Ah, papai, é tão bom conversar sobre isso tudo...
Augusto - É verdade. É muito bom conversar sobre tudo que diz respeito a Deus e Sua criação.
Marisol - Mas... e o Mozart?
Augusto - Depois de se acostumar no plano espiritual de Júpiter, mundo muito mais evoluído física e moralmente que a Terra, ele deve ter reencarnado no plano físico.
Marisol - Ué? Por que você falou “deve”?
Augusto - Porque da última vez que soubemos de Mozart, ele falou de sua vida em Júpiter no plano espiritual. Uma casa muito linda, com grades  e portões com claves de sol, de dó e notas musicais.
Marisol - Que lindo! Já pensou? Nascer bebezinho lá? – De repente, Marisol começou a fazer cara  de quem estava pensando em algumas coisas especiais e fez uma careta de desgosto. – Ai... Passar por tudo de novo: fraldas, mamadeiras, arrancar dentes. Que horror!
Augusto - Em toda parte a infância é um período necessário, mas não tão difícil como aqui na Terra.
Marisol - Que quer dizer isso, pai?
Augusto - Que mais rápido o espírito toma consciência de sua responsabilidade porque seu grau de evolução é maior que o nosso.
Marisol - Que quer dizer isso? Continuo não entendendo.
Augusto - Lembra Jesus quando era pequeno?
Marisol - Sim. Quando ele nasceu...
Augusto - Não, Marisol, quando ele e seus pais foram a Jerusalém para as festas no templo.
Marisol - Sim.
Augusto - O que aconteceu na volta para casa?
Marisol - Os pais lembraram-se dele no meio do caminho. Procuraram e não o encontraram. Aí, eles voltaram e encontraram Jesus no templo.
Augusto - Quantos anos tinha Jesus naquela ocasião?
Marisol - Tinha 12.
Augusto - E o que ele estava fazendo?
Marisol - Ele estava ensinando aos doutores da lei.
Augusto - O quê?
Marisol - Ele estava explicando os livros da leis aos profetas. Ah... entendi!
Augusto - Percebeu? Jesus tinha apenas 12 anos  e já estava consciente de sua missão. Ele explicava àqueles que eram os doutores da lei.
Marisol - É, pai.  Quando Maria chamou a atenção dele, falando que ela e José estavam preocupados, Jesus falou para ela: Não vê que estou cuidando das coisas de meu Pai? E Maria não entendeu naquela hora porque José estava ali. Mas Jesus estava se referindo a Deus.
Augusto - Você está muito sabida, Marisol.
Marisol -É que vó Vilma sempre me conta histórias de Jesus e na evangelização nós aprendemos sobre Jesus aos 12 anos na semana passada.
Augusto - Muito bem. Reparou, minha filha? Quanto mais evoluído é o espírito, mais rápido ele passa pela infância.
Marisol - Ah, pai. Gosto muito de conversar com você. Vamos continuar ouvindo música?

                Dizendo isso, ela se aconchegou ao pai que, finalmente, poderia continuar apreciando a grande música. Ele sorriu abraçando-a também e apertou o controle remoto do aparelho de som  que prosseguiu na execução da “Pequena Música Noturna” de Mozart.